segunda-feira, 25 de junho de 2018

Porque arrulham e as rolas são aves



Música: ?
Poema: Luís Caminha-Antóneo

Pensei dar-lhes o nome de rolas
que nas nossas memórias ficasse:
têm a textura das aves em fuga
e o desejo de fuga das aves,
o arrulho das noites em espera
o aroma impreciso do que há-de.

Porque agora já tudo me sobra,
que faço eu do que nunca me cabe?
Pensei dar-lhes o nome de rolas
porque arrulham e as rolas são aves.

Quando o amor nesses dias poalhava
de mistérios teu corpo sem dono,
quis mantê-las em conchas de mão,
concebê-las em sonos de sonho,
percorrê-las enquanto houvesse onde
conhecê-las em quandos de outono.

Que faço eu do que nunca foi meu,
se hoje acabo e já nada me cabe?
Talvez dar-lhes o nome de rolas
porque arrulham e as rolas são aves.


Leceia e 25 de junho em 2018
(1.ª versão: Lisboa em 1991)

segunda-feira, 18 de junho de 2018

da própria cicuta [fado vianinha]


Música: Francisco Viana
Poema: Luís Caminha-Antóneo

Eu hoje olhei para trás
como quem olhasse em frente
e senti que era capaz
de ter feito bem diferente.

Podia ter sobrevoado
este abismo em estar de menos,
não ter ido assim cansado
por caminhos tão pequenos.

Podia ser de combate
todo o peso no meu rosto
não tivesse posto a tarde
entre as tardes do sol-posto.

Podia que à flor da pele
me doesse a dor impoluta
de quem por taça fiel
beba da própria cicuta.

                                                                        Leceia e 18 de junho em 2018
                                                                        (1.ª versão: Lisboa e 5 de dezembro em 2011)

segunda-feira, 11 de junho de 2018

pó [fado vitória]

Música: Joaquim Campos
Poema: Luís Caminha-Antóneo
Versão mais conhecidaPovo que lavas no rio


Quanto caminho te falta
de sol antes da hora exacta
e essa hora que breu a faz?
No teu olhar quantas estrelas
se extinguirão e ao perdê-las
quanto pó te cobrirá?

Se eu não cair, por castigo,
antes de ti ou contigo,
com que arte serei de estar?
Se essa espera em corpo gasto
for sepulcro do teu rasto,
quanto pó me cobrirá?

E quando, como previsto,
tudo faltar a tudo isto,
que mais há para inventar?
O cadáver do que fomos
mais o cadáver em torno,
quanto pó os cobrirá?

Dará as cartas de novo
à mesa do mesmo jogo
o deus que de início as dá?
Ou também ele será nada
e, pó sobre pó, não tarda,
quanto pó nos cobrirá?


Leceia e 11 de maio em 2018

asas partidas

Poema ( original de 2007 ) e "música": luís caminha-antóneo que me passou hoje? como dentro um grilo sob a cama  a gritar a g...