Poema: Luís Caminha-Antóneo
Versão mais conhecida: Povo que lavas no rio
Quanto caminho te falta
de sol antes da hora exacta
e essa hora que breu a faz?
No teu olhar quantas estrelas
se extinguirão e ao perdê-las
quanto pó te cobrirá?
Se eu não cair, por castigo,
antes de ti ou contigo,
com que arte serei de estar?
Se essa espera em corpo gasto
for sepulcro do teu rasto,
quanto pó me cobrirá?
E quando, como previsto,
tudo faltar a tudo isto,
que mais há para inventar?
O cadáver do que fomos
mais o cadáver em torno,
quanto pó os cobrirá?
Dará as cartas de novo
à mesa do mesmo jogo
o deus que de início as dá?
Ou também ele será nada
e, pó sobre pó, não tarda,
quanto pó nos cobrirá?
Leceia e 11 de maio em 2018